Chegaram ao centro quatro novas longas-metragens.
Luís Miguel Correia em Trabalhos do olhar trata a obra do conhecido artista português, Pedro Calapez.
Luís Miguel Correia em Trabalhos do olhar trata a obra do conhecido artista português, Pedro Calapez.
Pedro Calapez é um dos artistas portugueses com maior destaque internacional. A sua obra, plasticamente poderosa, tem-se desenvolvido de forma consistente desde os anos 70. Mas o seu percurso é rico em alterações, mudanças, invenções, continuidades, uma experiência permanente ao nível da cor, do desenho e dos materiais.
O filme olha de perto o artista no seu atelier ou na montagem de uma exposição, revelando o seu processo de criação, indagando a própria especificidade da pintura.
Ao mesmo tempo, é-nos dada a riqueza e as dimensões do trabalho artístico de Calapez, numa viagem que vai da exposição na Galeria Max Estrella, em Madrid, à Casa da Cerca, em Almada, mas também olhando um trabalho cenográfico e revelando as obras públicas, nomeadamente os trabalhos efectuados no Mosteiro dos Jerónimos, na Igreja da Santíssima Trindade, no santuário do Fátima ou na praça em calçada portuguesa na Porta-Sul da Exposição Internacional de Lisboa de 1998.
O segundo filme, O teatro dos outros, foi realizado por Jorge Silva Melo. Este filme é uma revisitação da obra do pintor Nikias Skapinakis a partir da exposição Quartos Imaginários.
“Ele é, de certa maneira, o único clássico que conheci”, diz Jorge Silva Melo, “o artista apolíneo que instala uma distância clara entre si e o objecto, que pinta com as “mãos frias”, no dizer exacto do poeta José Gomes Ferreira, um pintor que não rejeita nenhum dos géneros, o desenho, o nu, a paisagem, o retrato, a natureza morta.
Viajar livremente pelos seus trabalhos, encontrar temas e técnicas transmutadas, seguir os seus mais de cinquenta anos de vida activa e prática ininterrupta é viajar por um universo meticuloso, intenso, intransigente, obstinado, livre. É a essa intransigência e a essa liberdade que quereria convidar o espectador, são cinquenta anos de uma provocação tranquila como já houve quem chamasse à sua obra multímoda e única.”
O terceiro foi realizado por Rui Esteves e chama-se Todi, a segunda morte de Luísa Aguiar
Durante 24 horas, algures no ano de 2008, uma octogenária de porte digno, vestida de negro e de olhar surpreso, percorre locais em Setúbal, Porto e Lisboa. Seu nome: Luísa Aguiar, La Todi.
O primeiro nome português cantado nas ruas, a ser disputado por fações rivais, sussurado por políticos e poetas, inspirador de compositores, vítima de invejas e de cabalas empresariais.
Idolatrada nas cortes imperiais da Europa e nos grandes teatros, amiga de Maria Antonieta, Catarina da Rússia, Frederico da Prússia, Beethoven, de Napoleão Bonaparte, inspiradora de Cherubini e tantos outros, a "Cantatrice de La Nation" morre, viúva, só, quase cega e quase pobre em Lisboa.
A mulher, de passo hesitante mas de mente lúcida, erra por entre gente e computadores, esplanadas e prédios, becos e teatros, pontes destruídas e conventos, procurando (quase) inutilmente reconhecer esses mesmos locais, agora de triste esquecimento.
Por fim, destacamos os dois documentários de Fernando Lopes, Lissabon Wuppertal Lisboa e Tomai Lá do O'Neill, reuniddos num DVD.
Lissabon Wuppertal Lisboa
Lisboa, cidade aberta, luminosa e quente, recebe Pina Bausch e a sua Companhia, o Tanztheater Wuppertal.
Vêm para uma residência de três semanas, respondendo ao convite do Festival dos 100 Dias: a criação de Ein Neues St?ck von Pina Bausch.
Chegam de olhos e ouvidos bem abertos, de veias bem temperadas, atentíssimos aos sinais, às cintilações, aos sons, aos perfumes e às emoções que a cidade lhes for sugerindo.
Depois, com as evocações especiais das suas próprias vidas, agora entretecidas pela aragem de Lisboa, acontecerá a tal hora muito rara em que tudo isto e tudo o resto, pela batuta misteriosa do génio de Pina Bausch, ganhará um corpo próprio, uma nova alma.
Essa terá por nome: “uma nova peça de Pina Bausch”. Ou outra coisa ainda. E Essa é que será linda: MASURCA FOGO.
Tomai lá do O'Neill
Trata-se de um tributo pessoal. Não uma biografia, muito menos uma análise crítica da obra poética de Alexandre O'Neill. Isso está feito e refeito. Trata-se, sobretudo, das vivências criativas, sentimentais e afectivas de um poeta, um dos maiores do nosso século XX, com quem tive o privilégio de conviver (e viver as aventuras da vida, mesmo se, como disse O'Neill, "a aventura acaba sempre numa pastelaria").