José Saramago nasceu na aldeia portuguesa Azinhaga em 16 de novembro de 1922. Era filho de camponeses pobres. Passou sua infância no povoado de Azinhaga, a família se mudou um tempo para a Argentina, e depois se afinaram em Lisboa. Publicou seu primeiro romance, Terra do Pecado, em 1947. Embora com esta obra recebeu muito boas críticas Saramago decidiu permanecer sem publicar mais de vinte anos. Jornalista e membro do Partido Comunista Português sofreu censura e perseguição durante os anos da ditadura de Salazar. Juntou-se à chamada Revolução dos Cravos que levou a democracia a Portugal, em 1974.
Um autor muito influente nesta obra é Camões, do qual já sabemos muito, mas nunca é demais recordar. Luís de Camões foi um escritor e poeta português, geralmente considerado um dos maiores poetas em língua portuguesa; também escreveu alguns sonetos em castelhano. É um pouco duvidoso o que se sabe da vida do escritor. Outro autor muito influente é Fernando Pessoa e seus heterónimos. Fernando Pessoa nasceu 13 de junho de 1888, em Lisboa. Iniciou sua atividade de ensaísta e crítico literário com a publicação, em 1912 na revista Águia, do artigo. Saramago também foi um grande admirador de Fernando Pessoa, do qual também se conservam textos com certos parecidos nesta obra, em concreto com duas de suas obras Odes de Ricardo Reis e Mensagem.
O autor argentino do qual falaremos mais tarde parece não ter muita relação com tudo o anterior, mas demonstrarei o contrário. Jorge Luis Borges foi escritor argentino considerado uma das grandes figuras da literatura em língua espanhola do século XX. Cultivador de variados gêneros, que muitas vezes se fundiu deliberadamente, Jorge Luis Borges ocupa um lugar excecional na história da literatura por seus relatos breves. Borges é sem dúvida o escritor argentino com maior projeção universal. Torna-se praticamente impossível pensar a literatura do século XX sem a sua presença, e assim o reconheceram não só a crítica especializada, mas também as sucessivas gerações de escritores, que voltam com insistência sobre suas páginas como se estas fossem pedreiras inextinguíveis da arte de escrever.
Em O ano da morte de Ricardo Reis, Saramago reúne características que são comuns em toda sua obra: passagem histórica, fatos improváveis ou impossíveis e engajamento político. A ironia na construção do protagonista transpassa todas essas características, marcando bem a presença de um narrador manipulador que, embora não trave diálogos abertos com o leitor, como o faz Machado de Assis, evidencia sua presença por meio de encontros, confrontos e diálogos inverosímeis. O tempo da narrativa ocorre no período entre guerras, que foi marcado por graves tensões políticas que culminaram na ascensão dos regimes totalitários em vários países, entre eles Portugal. A opção de Saramago pelo heterônimo Ricardo Reis para protagonizar uma história ocorrida na década de 1930, um dos períodos mais conturbados do século XX, seria absurda se não fosse irônica. Qualquer desavisado sobre as preferências políticas e o engajamento político de Ricardo Reis poderia entender que seu retorno à Portugal nesse período representaria um impulso à ação, ao combate, sobretudo porque a efervescência política da época era um contexto propício aos politizados, aos idealistas, aos belicosos… Mas Ricardo Reis é um ser politicamente marginal e desinteressado.
Concluo esta interpretação assinalando o Jorge Luis Borges, fazendo ênfase em sua influência na heteronímia “pessoana” e mostrando novamente que a literatura pode estar mais conectada do que acreditamos.