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14/03/11

Conto do Dia - A Cartomante

A Cartomante

(...) A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um barulho das cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos.
Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
-Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
-E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
-A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e barulhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; barulhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las.
-As cartas dizem-me...
(...)

In Machado de Assis - A Cartomante

Esta é uma das obras que está a ser lida no clube de leitura "Vou contar-te um conto...".